sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Cap. 22 - Aprendendo do modo mais difícil.


Acordei entusiasmado aquele dia, era agosto de 1943, o calor insuportável para a época, mas os dois dias recolhidos ao solo devido ao mal tempo foram suficientes para nos fazer recarregarmos as forças. O café da manhã estava com um gosto especial, os pilotos e mecânicos com um ar mais leve... e os BF109 G6 com seus bicos e caldas amarelas estavam magnificos, reluzentes, a chuva os lavou, e os mecânicos cuidaram deles como se cuida de um filho recém nascido.

Eram 5 dessas aeronaves dispostas lado a lado no campo de pouso, o mato verde agradecia a chuva dos dias anteriores e reverenciava o sol que lhes despertava pela manhã.


Ao sair do rancho ainda mastigando meu pão percebo a movimentação dos Jager e dos BLW, correria na pista, inimigos por perto pensei, vejo os pilotos Klaus, Phoenix e Ottobert saltarem para dentro de seus aviões. E eu? Por que não fui chamado? Olho de novo para os BF 109 na pista e vejo Pasfar e Ribeiro praticamente saltarem para dentro do BF sem sequer tocar nas asas... e eu? Eu? Corri para o meu BF 109 G6, mas antes de chegar perto vejo meu mecânico Ernest todo sujo de óleo, droga, uma mangueira furada, durante a madrugada ao passarem por uma das rotinas de aquecimento de motores o vazamento foi detectado, ele já estava terminando o reparo, mas não poderia decolar ainda... ainda... quanto tempo é ainda? 3 minutos ele grita entre os urros dos motores dos outros BF.

Pasfar e Ribeiro me entreolham, dou de ombros e faço sinal típico de negativo, eles acenam, fecham o canopy e se alinha para a decolagem, o vento das hélices é tão forte que preciso me segurar no profundor do BF para não ser jogado ao chão.

Decolam os 5 Bf 109 juntos, rumo 090, inimigos podem ser vistos se aproximando a 1000m de altura. Não demora nem 2 minutos e o Dogfight se  inicia, nossos BF109 rodearam a pista 3 vezes para tomar altura e uma posição ótima de ataque.

Enfim Ernest me bate nas costas, sinal positivo na mão, sorriso no rosto, me jogo para dentro do BF e recebo a ordem da torre: SCRAMBLER NOW!

Rápida olhada nos instrumentos, trem de pouso, flaps, pitch, trins, radiador, tudo certo! Acelero loucamente o BF enquanto fecho o canopy e aperto o cinto, não vou tomar rumo da pista, decolo na direção do combate, escuto pelo rádio Ottobert avisando Klaus de um Lavochkin La-5 na six, "Break direita" o Klaus tomou alguns tiros de raspão, mas logo o La-5 é varrido dos ares pelo Ottobert.

A torre nos deixa loucos com seus avisos sobre a posição dos La-5, podemos ver todos, isso só nos enerva mais!

Subo como um louco, o combate se desenrola na minha altura, na asa esquerda.


São agora 4 La-5, um já foi, Klaus opta por pousar para trocar o avião, vejo que uma fila indiana se formou, um Bf109 sendo engajado por um La5, enquanto outro 109 engaja esse mesmo La. quando percebo o segundo 109 passa pela La5 mas não consegue atingi-lo, é minha oportunidade. Pasfar e Ribeiro se engalfinham com outros 2 La5 enquanto estamos com 2 aqui nesse Dogfight. 


Bom, é hora do show, viro a esquerda, 45 graus de angulo de chegada, 500m acima do La5 que engaja um dos BF109, faço uma passada rápida, angulo muito ruim de tiro, mas disparo 2 vezes seguidas por 1 segundo, vejo alguma fumaça por entre o bico do meu 109 que esconde o La5, devo tê-lo atingido.


Pico o avião um pouco e ele reaparece no meu colimador subindo e curvando a direta, praticamente pendurado, bom, ele preenche todo o colimador, a mágica será feita, transformarei um La-5 em fogo? Sim, rajada longa, vários obuses de 20mm enchem a asa direita e a cobertura do motor, Otto grita pelo rádio "Lindo tiro rapaz" e o La5 logo vai ao chão, bom, agora somos 5 contra 3.

Vejo Otto e Phoenix mandarem logo outros dois ao solo, quando o quinto tenta se aproximar na minha six, mas um dos BF logo passa disparando ao lado do La5 que não aguenta e logo explode no ar. Pronto, o céu agora esta limpo, mas o solo é só pedaços de La5. Aviso que retornarei para a base pois estou quase sem munição de 20mm. Otto fala pelo rádio com sua voz calma de sempre "proa 280 para a base, belo voo pessoal!". Enquanto o Phoenix ainda esta com seu jeito agitado de ser e não para de rir e comentar sobre o combate!

Pousamos todos e logo somos recebidos pelo pessoal da base que assistiu ao show de camarote, empolgados vem nos retirar das aeronaves, claro que pagamos uma rodada para todos os mecânicos, e para meu amigo Ernest paguei uma rodada extra e lhe dei um pacote de bolachas, o BF sorria pousado do lado de fora nos vendo felizes!


Quando saio da seção de bebedeira vejo uma aglomeração ao redor de meu BF, o pessoal foi pintar mais uma marcação no leme! "Ei isso é serviço meu!" gritei as gargalhadas logo batendo em todos com o quépe e os dispersando, seguro Ernest pelo colarinho de com o pincel lhe faço uma homenagem ao Furer desenhando um bigodinho logo abaixo de seu nariz... os outros quase caem no chão de tanto rir!



Todo excesso de confiança é ruim, e 30 minutos depois uma leva de La5 veio ao nosso encontro novamente, dessa vez não tive tanta sorte, em um passe idiota de Head On fui alvejado no motor que não aguentou, proa 000 e uma ditchada horrível ao lado da pista, bom pelo menos meu BF será levado para casa e eu, idiota, ficarei alguns dias preso ao solo sem avião para decolar. Aliás, nós fomos todos abatidos nesta missão, felizmente alguns saltaram e outros ditacharam... é para aprendermos!


Ao entardecer fui até meu 109 avariado e tive uma longa conversa com ele, sentei no cockpit aberto com dois vidros perfurados por balas, lhe pedi desculpas por tê-lo maltratado e lhe prometi que a partir daquele momento ele seria parte de mim, assim como eu seria parte dele, nunca mais seríamos derrubados.


2 comentários:

  1. Ai Comandante! Está aprimorando a técnica, muito bem escrito este capítulo. Parabéns Amigo!

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  2. Nada como bons livros lidos para nos inspirarmos!

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