Hoje a noite na minha barraca, pensativo, entre trovões e explosões das bombas lançadas pelos malditos PE-2 me lembrei dos meus tempos voando nas Filipinas.
Enquanto aqui embaixo o frio congela, o sol arde a 10.000 metros de altitude e o vento nos corta através da pele semi-congelada, nas Filipinas o sol queimava mais gostoso... o tempo bom era melhor aproveitado nas nossas folgas.
Na Rússia não temos bom tempo, nem tempo bom... ou esta um frio de rachar pedra, ou o frio já rachou todas elas. Brigamos pela manhã para conseguirmos uma caneca de chá quente. As vezes somos pegos de surpresa pelos PE-2 e IL2 que nos bombardeiam de surpresa, e somos obrigados a nos lançar dentro dos poços de lama e gelo que chamamos de abrigo anti-bombas... barbados, fedidos, sujos e molhados mais parecemos um bando de mendigos do que pilotos do Fürer... que situação insustentável.
Um Abutre sempre fica ansioso pelo combate. |
Nas Filipinas tivemos a chance de voar os Ki-44, Ki-61 e Zeros japoneses contra os grandes, pesados e vagarosos caças americanos, como era gostoso entrar nas curvas apertadas dos dogfights e poder entrar na six de um F6 WildCat e enfiar as 20mm explosivas na interligação das asas com as fuselagens, ver as explosões arrancarem as asas, enquanto lâminas de fogo que mais se pareciam com espadas do demônio a lamber os céus saiam dos tanques em chamas... torcendo para que o piloto pulasse do seu caixão blindado... aliás essa era uma dúvida que sempre rondou nossas cabeças, pilotos inimigos, eram realmente inimigos, ou eram adversários, deveriam morrer na explosão de seus aviões ou deviam saltar para voltarem a voar e tentar nos matar?
Me lembro certa vez em que voávamos em 3 Ki-61, capitão Pasfar na época, major Mutley e eu, em ala, voávamos contra alguns P-51... decolamos em ala, e rumamos sul, quando já a 3000m encontramos 3 caças americanos, tínhamos informação que seriam 3 ótimos pilotos, mas tínhamos nas mãos bons aviões, vamos a caça oras!
Rápido briefing na barraca da inteligencia, e a ordem: "Scramble NOW!"
Decolagem nervosa, os 3 Ki na pista, asa a asa, eu de olho na asa direito do Pasfar, que desfilava a menos de 2 metros da minha, qualquer erro e já era...
Eu estava como Yellow 3 da esquadrilha Alfa comandada por Mutley, enquanto Pasfar era Yellow 2, ao termos visual dos dois P-51 tratamos de entrar em formação de combate, Mutley grita pelo rádio: "Visual, três P-51 a 2000m sentido 005, alta velocidade, engajando!!!" , esse grito no rádio foi mais que suficiente para já começarmos a suar, minhas mãos começaram a tremer, minhas luvas se encharcaram de suor, mal conseguia pressionar os pedais tamanho era o tremor que percorria meus músculos das pernas... que sensação horrível, somos pilotos de guerra, mas o temor da morte sempre nos assola.
Canhões destravados, colimador iluminado.
Mutley começa um mergulho ganhando velocidade para logo em seguida assumir uma subida adiantada em chandelle, atrás do lider dos P-51, que já aponta para o céu na tentativa de tomar altitude para ganhar energia, com certeza fora surpreendido por encontrar 3 Ki-61 avançando com energia em sua direção. Pasfar sobe logo atrás do ala dos P-51, os 4 formando uma fila indiana do inferno... como aquilo iria terminar? Entrei imediatamente no combate, como minha formação me deixou mais afastado do combate, pude adiantar a curva e tratei de ganhar velocidade, e ficar esperando um dos P-51 descer... na tocaia, o ala também subiu, na 6h de Mutley, sendo que o terceiro entrou na fila atrás do Pasfar.
O combate começara a menos de 10 segundos, e eu já não me aguentava de cansaço, o bom é que um combate aéreo raramente dura mais de um minuto, o ruim, é que eu poderia estar morto em menos de um minuto.
Pasfar avisa Mutley que existe um P-51 na cola dele, mas que na preocupação do combate o P-51 acabou deixando o Mutley um pouco longe, fora de alcance, faço uma passagem rápida com muita energia no Mustang que esta entre o Pasfar e o Mutley e acerto alguns obuses, no desespero o P-51 stola e cai, desengajo, neste momento Mutley dá uma pequena rajada de menos de um segundo no P-51 líder, este achando que esta sendo engajado mergulha, outra oportunidade.
Com o mergulho do P-51 líder o seu segundo ala também mergulha, passando a virar um alvo primário para mim, Pasfar faz um touneaux barril e o engaja, o que o faz executar algumas manobras e acaba virando outro alvo para mim, de oportunidade, sem perder o líder, faço uma rápida passagem no terceiro mustang, acerto alguns tiros e abandono o combate, visualizo a área e encontro Mutley perseguindo o P-51 líder, novamente adianto a curva e engajo o Mustang, acerto alguns tiros na passagem, ele começa a desenhar com fumaça nos céus, verifico a posição do Mutley estava mais atrás do P-51 líder, continuo engajado, algumas curvas e... o primeiro Mustang que acertei ficou avariado pelas explosões dos meus obuses, assim o P-51 ala vira um alvo fácil para o Pasfar que o abate rapidamente.
Inicio uma subida para trocar velocidade por altura em altos G´s, a manobra quase me arranca a máscara de oxigênio, ela é forçada para baixo com tamanha força que meu nariz fica de fora da mesma, respiro pela boca, nariz em carne viva pela fricção da máscara... manche no ventre, estalidos por todas as partes do avião, será que esse negócio aguenta?? Sensação horrível, meus braços pesam toneladas, meus pés mal encaixam nos pedais... diminuo a força na subida, o alvo estava logo abaixo manobrando, aponto para baixo e dou algumas rajadas rápidas para atiçar os nervos do piloto do P-51.
Mutley, viu que o líder já era e engajou o terceiro, em umas das curvas o P-51 é pulverizado pelos obuses do Mutley.
Engraçado, o medo, a tremederia e tudo o mais sumiram, só o suor persiste, afinal o esforço nos faz parecer atletas percorrendo 100m com barreiras. Uma gota de suor escorre por minha testa e cai nos meus olhos... não tenho tempo sequer de pensar nisso.
Aviso pelo rádio ao líder que tenho chances extraordinárias contra o P-51, mergulho, o sangue sobe aos meus olhos... Mutley recupera energia subindo, empurro o manche com todas as minhas forças, nunca imaginei que pudesse existir tanta terra dentro do meu avião, cada grão de poeira solto dentro do avião começa a flutuar na minha frente, batendo na minha cara, entrando nos meus olhos, maldição, por que não coloquei meus óculos? Suor e terra juntos me fazem praticamente cegar. Suavizo o mergulho para diminuir o efeito da gravidade no meu sangue...
Consigo fazer com que o P-51 entre no meu colimador, 300m... ainda não... lembrei de uma dica do Mutley, conversamos algumas noites antes durante um jantar... forço meu braço esquerdo para ajustar o colimador para 100m... "só atire quando puder ler os instrumentos no painel do avião inimigo... espere enxergar o branco dos olhos do inimigo" dizia Mutley... o inimigo... ah, esse é dos experientes, já me viu com certeza, começa a manobrar, mas estou com um Ki-61... manobro mais, se eu o deixar acelerar irei ficar para trás, mexo o menos possível no manche, Mutley desce, Pasfar já tenta entrar no combate, com certeza este P-51 esta muito apreensivo, seus alas foram abatidos, e tem 3 Ki-61 em seu encalço, essa sensação com certeza foi o suficiente para que eu conseguisse o enquadrar a 100m, solto uma rajada de 2 segundos, aperto tão forte o botão das metralhadoras e canhões que chego a sentir câimbras nos dedos... atiro com tudo o que tenho direito, ele não vai me escapar!
Mutley sempre diz: "Quando possível jogue até o pinico, lancheira, parafuso, moeda, tudo vale para abater o adversário". Vejo os clarões dos meus obuses nas placas metálicas do painel do motor do P-51, as explosões percorrem toda a fuselagem do P-51, arrancando placas de alumino que antes eram verde e agora uma mistura de alumínio e amarelo de fogo. Ele vira uma grande massa de ferro, combustível, fogo e fumaça... caindo em direção as árvores, muito baixo, o piloto não terá chance de saltar. A explosão foi formidável... nunca tinha sentido o golpe da onda de choque assim tão forte, pedaços do P-51 passam ao meu lado esquerdo, quase me acertando, uma parte do trem de pouso roça meu leme... sinto uma mistura de prazer e medo...
Mutley sempre diz: "Quando possível jogue até o pinico, lancheira, parafuso, moeda, tudo vale para abater o adversário". Vejo os clarões dos meus obuses nas placas metálicas do painel do motor do P-51, as explosões percorrem toda a fuselagem do P-51, arrancando placas de alumino que antes eram verde e agora uma mistura de alumínio e amarelo de fogo. Ele vira uma grande massa de ferro, combustível, fogo e fumaça... caindo em direção as árvores, muito baixo, o piloto não terá chance de saltar. A explosão foi formidável... nunca tinha sentido o golpe da onda de choque assim tão forte, pedaços do P-51 passam ao meu lado esquerdo, quase me acertando, uma parte do trem de pouso roça meu leme... sinto uma mistura de prazer e medo...
A câmera do meu avião grava tudo, o grupo tem 3 abates homologados!
"-Peguei! Acertei um e derrubei o outro!" Gritei no rádio.
Pasfar finalmente conta como abateu o seu P-51, informa que um dos meu obuses acertou o aileron direito do P-51 ala e com isso ele não teve como defender seu líder. Acabou nos céus como uma grande explosão.
Me lembro sempre das aulas de caça, atire e fuja, ganhe altura, se acertou terá chance de derrubar o inimigo, se não acertou terá chance de obter uma posição melhor para um novo passe.
Mutley entra na frequencia do rádio, radiante com o combate e nos felicita pelas vitórias e avisa, foram 3 medalhas!
"-Medalha, medalha, medalha!"
Os 3 Ki-61 voltam a formação de patrulha rumando para nossa base, minhas pernas voltam a tremer. Quanto tempo durou o combate? Uns 40 segundos... me pareceu uma hora inteira.
Ordem de travar os canhões, recolher os flaps combate, e diminuir a velocidade e altura.
O pessoal da base que escutava o rádio veio para a pista, o famoso rasante com o balançar das asas já era aguardado, e dessa vez foram 3 rasantes! Como esse pessoal pula pela pista!!! Tiros brancos para o ar nos autorizam a pousar.
Pousamos os 3, Líder, Yellow 2 e Yellow 3, um pouso com segurança, um de cada vez, nossas crianças mereciam um pouso bem seguro depois de nos abrigar tão bem depois do combate.
Hahaha muito bom o desenho do Abutre...valeu Sípoli, esperamos que vc volte a voar em breve.
ResponderExcluirVamos ter que montar uma fabrica de pinicos hehehe e arrumar um jeito de arremessá-los hahahaha
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