sábado, 16 de junho de 2012

Walter Nowotny



Não tenho simpatia por nazistas, não compartilho com seus ideais, mas sei reconhecer os grandes feitos de alguns pilotos de combate alemães durante a WWII, entre eles o Piloto Walter Nowotny, do Me262 postado ontem.

Estamos em Vilna, Lituânia, 19 de outubro de 1943, pouco antes da meia-noite. No bar Ria o telefone toca e é atendido por um Oberfeldwebel que faz as vezes de garçom; o barulho é grande e ele escuta com dificuldade com quem sua interlocutora deseja falar: "Chame o Hauptmann Nowotny ao telefone, por favor". Uma vez chamado, um jovem oficial se levanta entre um grupo de pilotos cercados por algumas garotas e, com um cigarro em sua mão, atende ao telefone. "Nowotny falando!". E a voz respondeu: "Aguarde um momento, por favor. Vou transferir a ligação para o Führer..." 

Chocado e surpreso, Nowotny deixou o seu cigarro cair. Talvez fosse alguma brincadeira de um de seus colegas pois, afinal, naquele dia ele estava comemorando sua 250ª vitória. Mas este não era o caso: nos segundos seguintes ele estava recebendo as congratulações de Hitler pelos Diamantes da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro que acabavam de lhe serem concedidos. No dia seguinte, Nowotny voou até o quartel de Hitler na Prússia Oriental para receber de suas mãos a mais alta condecoração por bravura da Wehrmacht. Era, então, um dos grandes heróis do povo alemão.

Um dos emblemas pessoais de Nowotny em seu Bf 109F

Nascido na pequena cidade austríaca de Gmünd, Áustria, em 07.12.1920, Walter "Nowi" Nowotny, quando criança, costuma-va cantar no coro do convento de Waidhofen, onde ele comple-tou seus estudos, tendo se destacado como um aluno muito bom. À esta altura, a Áustria já havia sido anexada ao III Reich e, em 01.10.1939, Nowotny juntou-se à Luftwaffe como Oficial-cadete em Breslau-Schogarten. Após a finalização do curso de piloto de caça, "Nowi" foi designado para servir na JG 54 "Grünherz", sob comando do Major Hannes Trautloft.

Nowotny comemora sua 100ª vitória.

Suas primeiras missões de combate ocorreram na Frente Russa, logo no início da Operação Barbarossa, em junho de 1941. Menos de um mês depois, em 19.7.1941, ele obteve suas duas primeiras vitórias confirmadas, contra caças soviéticos Polikarpov I-153 sobre a ilha de Ösel na Estônia.

Sua natureza um tanto ansiosa logo tornou-se bem conhecida entre os demais pilotos do 9./JG 54. Este lado de sua personalidade quase lhe custou a vida, quando, dois dias após suas primeiras vitórias, ele foi abatido por um I-153 quando sobrevoavam a baía de Riga.

Depois de três dias e três noites a deriva no mar, ele finalmente alcançou a praia. Este primeiro encontro com a morte mudou o jovem Leutnant "Nowi".

Ele tornou-se mais atencioso e supersticioso, a partir deste dia, sempre levava com ele a calça que tinha usado nesta ocasião, em todas as missões de combate que participou. 

Mas isso não diminuiu sua agressividade em combate. Ainda em setembro daquele ano, Nowotny recebia a Cruz de Ferro de 1ª Classe após sua 10ª vitória. Transferido para o 3./JG 54, no decorrer de um ano, Nowotny abateu mais de 40 aviões soviéticos, pilotando Messerchmitts Bf 109 nas versões F e G, culminando com as sete vitórias obtidas no dia 02 de Agosto de 1942. 

Com isso, ele foi condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro em 04.09.1942, quando já havia derrubado um total de 57 aviões inimigos. 

Mas os combates vinham se tornando cada vez mais violentos. Nesta época, enquanto voava perto de Leningrado, juntamente com outro avião, ele viu-se atacado por uma formação de 60 caças soviéticos. Destes, três I-18 caíram pelas mãos de Nowotny, antes de seu avião ser atingido. Embora o Bf 109 tenha se incendiado, o seu habilidoso piloto conseguiu aterrissar.

Nomeado Staffelkapitän do 1./JG 54 e promovido a Oberleutnant, ele se superou como piloto. Em 15 de junho de 1943, Nowotny alcançou sua vitória de número 100. Nove dias depois, ele abateu mais dez aeronaves soviéticas num único dia. No dia 13.08 derrubou mais nove adversários; em 18.08.1943 ele reportava aos seus superiores sua 151ª vitória e abateria outros sete no dia 21. O mês seguinte, já como Kommandeur do I./JG 54, ele abriu com mais dez abates apenas no primeiro dia, o que elevou sua contagem para 183 vitórias. Finalmente, em 04.09.1943, após atingir a marca de 189 aviões destruídos, ele foi condecorado com as Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro e no dia 8 de setembro, alcançou a incrível marca de 200 vitórias aéreas. 

Por fim, em 22.09.1943, após sua 218ª vitória, Nowotny foi agraciado com as Espadas da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. Durante seus últimos meses na frente oriental, que terminou em 12 de novembro, Walter Nowotny abateu mais 37 aviões russos, tornando-se o primeiro homem no mundo a alcançar a espantosa marca de 250 vitórias aéreas em 14.10.1943. Foi este feito que lhe valeu os Diamantes da Cruz de Cavaleiro e o telefonema de Hitler.

 

Então com 22 anos de idade o agora Hauptmann Walter Nowotny figura no topo da lista dos ases da Luftwaffe, tendo recebido todas as mais altas condecorações militares alemãs. Transformado numa espécie de "superstar" pelo Oberkommando der Luftwaffe, o jovem "Nowi" é afastado das operações de combate. Durante o ano seguinte, sua principal função na guerra foi de servir como "garoto-propaganda" e elevar o moral de seus compatriotas. Em fevereiro de 1944 ele parte definitivamente do Front Oriental para assumir o comando da Escola de Treinamento de Caças 1, sediada em Paux, nos Pirineus Franceses. Simultaneamente, Nowotny também se tornou Kommodore do JG 101. 

Porém, o rumo da guerra forçou o Alto Comando a chamar o agora Major Nowotny de volta à ativa, passando a atuar na defesa do Reich. No outono de 1944, ele foi escolhido para comandar a primeira unidade de caças a jato do mundo, então denominado Kommando Nowotny (KdoNow), e que seria equipada com o novo Messerschmitt Me 262. A maior dificuldade enfrentada por ele no comando desta unidade foi o número insuficiente de caças à sua disposição e a teimosia de Hitler em empregá-los como caças-bombardeiros. Para tornar sua situação mais desesperadora, a Luftwaffe encontrava-se em tal estado que, muitas vezes, faltavam-lhe até mesmo os caças que deviam dar cobertura aos jatos em suas decolagens e pousos (os momentos em que eram mais vulneráveis). Criticado por Galland, ele não conseguiu alcançar todo o sucesso esperado.

No dia 07 de novembro de 1944, Nowotny teve uma violenta discussão com o Generaloberst Keller que, como representante do Ministro da Luftwaffe Göring, afirmou que os pilotos de caça haviam se tornado covardes.

No dia seguinte, desobedecendo uma ordem expressa de Galland - que o estava visitando - e disposto a provar o contrário ao Alto Comando, Walter Nowotny decolou para atacar uma formação de bombardeiros norte-americanos. Como nos velhos tempos, ele mergulhou contra a formação e atingiu sua primeira vítima, um B-24 cuja asa foi arrancada da fuselagem. Outro avião seria destruído (provavelmente um P-51) mas logo em seguida, Nowotny comunicou que estava com problema de superaquecimento em uma das turbinas e retornava à base voando monomotor.

Tudo indica que nesse momento, durante os preparativos para o procedimento de pouso, a aproximadamente 9 km do aeródromo de Achmer, ele tenha sido atacado por um caça. Suas últimas palavras pelo rádio foram: "Eu estou queimando! Meu Deus, meu Deus! Eu estou queimando!". Estava muito baixo, a aeronave bateu no chão, perdendo uma das turbinas e explodiu furiosamente. Partes de seu corpo foram recuperadas e teve um enterro de herói em Viena, Áustria. Com a conquista da cidade pelos soviéticos, em abril de 1945, o mausoléu construído para guardar seus restos mortais foi destruído. Somente em 1950 é que as forças de ocupação permitiram que uma simples lápide fosse colocada no lugar.  

 

O local do acidente (~1 km a leste de Epe) ficou coberto de destroços do Meserschmitt 262, espalhados por uma grande área. Antigos moradores se lembram que uma das turbinas estava jogada ao lado da rodovia próxima ao local. Posteriormente, um pequeno memorial foi erguido, utilizando-se inclusive partes dos destroços do avião. O tenente RW. Stevens do 364º Fighter Group, em seu relatório de missão, relatou ter perseguido e danificado um Me 262 próximo a Epe naquele dia.

Galland falou sobre aquela visita: Cheguei naquele dia (07.11) para inspecionar a unidade e fazer um relatório detalhado. Conversei também com Nowotny naquela tarde, e ele passou-me seus relatórios pessoais. No dia seguinte, um grupo de bombardeiros B-17 (talvez fosse B-24) foi detectado vindo em nossa direção, e a unidade conseguiu colocar quatro jatos em operação. Alguns Fw 190, aguardavam na pista, para fazer a cobertura durante a decolagem e principalmente no regresso dos Me 262. Permaneci na Sala de Operações, monitorando as ações pelo rádio e tendo uma idéia do que estava ocorrendo.

Schall (Franz Schall ganhador da Cruz de Cavaleiro) aproximou-se da formação, mas não conseguiu fazer contato, já que foi interceptado pelos Mustangs da escolta. Na segunda tentativa, ele abateu um Mustang, mas sua turbina apagou. Tentou reacende-las realizando um mergulho, mas foi pego pelos Mustangs, que tiraram belas fotos do jato alemão.

Vários bombardeiros foram atingidos pelos outros Me 262, e Nowotny pelo rádio reportou que estava regressando. O líder dos Fw 190, Hans Dortenmann, pediu permissão para decolar e proteger o pouso de Nowotny, mas esse mandou aguardar. A defesa anti-aérea abriu fogo contra alguns Mustangs que se aproximavam do aeródromo, fazendo-os retornar, pelo que entendi, enquanto os jatos se aproximavam. 

Um dos Me 262 fora abatido (o de Schall) e Nowotny se comunicou dizendo que uma de suas turbinas estava com problemas, estando voando monomotor, ficando muito vulnerável. Saí da sala de Operações para observar melhor seu procedimento de pouso, quando um caça inimigo apareceu não sei de onde (seria aquele que derrubaria Nowotny). 

Escutei o ruído de um motor a jato e vi um 262 surgindo por entre as baixas nuvens, muito baixo. O avião estava meio torto e em seguida bateu no chão. A explosão causou um deslocamento de ar muito forte, e apenas uma coluna de fumaça negra foi vista em seguida, por trás das árvores. Rapidamente pegamos um carro, e nos dirigimos ao local do acidente. Era o avião de Nowotny. Nos destroços encontramos apenas sua mão esquerda e os diamantes da sua Cruz de Cavaleiro.

Mas, ao contrário dos soviéticos, seus adversários ingleses (contra os quais comandou a JG101) o tinham em grande estima. Pierre Clostermann, o grande ás francês (nascido no Brasil), que voou pela RAF e encerrou a guerra com 33 vitórias, assim descreveu o dia em que souberam da morte de Nowotny, em seu livro "The Big Show" (O Grande Circo):

"Walter Nowotny estava morto. Nosso adversário sobre os céus da Normandia e da Alemanha fora morto antes de ontem.(...) Naquela noite seu nome esteve todo o tempo em nossas bocas. Nós falávamos dele sem ódio e sem rancor. Cada um de nós o recordava com respeito, quase que com afeição (...) foi a primeira vez que ouvi, abertamente, aquela curiosa solidariedade que há entre os pilotos de caça, e que está acima de todas as tragédias e preconceitos (...) Quem quer que seja que ousou pintar a marca desta vitória em seu avião é um porco!".

Embora alguns não o considerem um líder nato como o eram Galland, Mölders e Lützow, não se pode negar que Walter Nowotny era um caçador por excelência. Em apenas 442 missões de combate, ele havia abatido um total de 258 aviões inimigos e permanece na História como o 5º maior ás de todos os tempos. 


Bf 109G-2 - Lt. Walter Nowotny, 1/JG54 - Rjelbitzy/Russia - Agosto, 1942.


Fw 190A-6 - Hptm. Walter Nowotny, Gruppenkommandeur I/JG54 - Orel/Russia - Outubro, 1943.

Me 262A-1a - Maj. Walter Nowotny, KdoNow - Achmer/Alemanha - Novembro, 1944

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