Cap. 14 - Escoltas pela manhã, DogFight a tarde!

Era uma manhã de agosto de 1941, terça-feira, o tempo estava bom, céu claro, as poucas nuvens que teimavam em esbranquiçar os céus estavam a mais de 3.000m.

Saí do galpão do rancho ainda tomando o café da manhã na minha latinha de ração, junto com o pessoal do 2º/1º Grupo de bombardeios, juntamente com o Comandante Ten Cel Mutley, do Gav Abutres.

Durante o café da manhã foi decidido que iríamos atacar um alvo ao Nordeste de nossa base, cerca de 15km na proa 080.

Pessoal do Gav Abutres, BLW e Jager, o piloto Ottobert, com seu famoso bigode, ainda dentro do rancho, neste dia Ottobert não voou, era folga forçada.

O cheiro da grama cortada e com orvalho foi sendo trocado pelo cheiro da Nafta queimada pelos motores de nossos aviões.

Os Ju88 A4 foram sendo preparados um a um, suas bombas de 1000kg, 2000kg sendo presas uma a uma, com o carinho que só seus mecânicos poderiam fazer.

Na primeira passagem decolaram vários Stukas e três Ju88.

As escoltas foram realizadas por cerca de cinco caças, a grande maioria eram BF109E4, mas como eu não havia recebido meu avião precisei voar com o meu antigo Hurricane.

Meu Hurricane estava pronto desde ontem a noite, quando cheguei de meu último voo solicitei que o deixassem pronto para situações Charlie 2.

Ataques após ataques viam-se grandes explosões no alvo inimigo, até o mesmo ser reduzido a cinzas.

É triste ver o legado deixado após nossos ataques, mas na guerra ou são eles, ou nós.

Foram 10 aviões escoltados de nossa base até os alvos, em várias missões, sem ação de defesa dos inimigos russos, mas soubemos pelo rádio que alguns PE2 faziam incursões ao sul de nossa posição, alguns Messerchimidt foram a caça e travaram combates ferozes durante a manhã.

Foi um voo de 40 minutos, que serviu como treinamento de reconhecimento, escolta e também para me adaptar ao novo campo de pouso que estávamos utilizando.

Voltamos a base com o dever cumprido sem a perda de sequer uma aeronave.

Após um "agradavel" almoço, com direito a alguns veados caçados ao redor de nossa base, descansamos por cerca de uma hora, quando fomos colocados em prontidão Charlie 5. Nos vestimos e podíamos sentir a adrenalina entrando em nossa corrente sanguínea.

O briefing direto pelo rádio, pedem-nos para sacarmos o mapa do norte do campo de batalha, apontam um local onde deve haver alguns trens estacionados, território inimigo adentro cerca de 40km, será um ataque surpresa, dois Ju88 e uma única escolta, de Hurricane... "ok" pensei é meio suícidio dar escolta com um Hurricane, mas vamos lá, voamos com o que temos.

Uma reunião rápida e o briefing foi terminado, ali mesmo, no chão

Os Ju88 decolam já na proa para o alvo, desviando das bases inimigas e subindo o máximo possível. Os pilotos, Co do 2º/1º Grupo de Bombers Major Pasfar, junto com o piloto Klaus do grupo Jager, voam em ala.

No meio do caminho a mais de 4.000m de altura, durante um split de patrulha ao nosso redor, dentre as centenas de vezes que realizei splits, localizo um ponto no horizonte, mesmo altura que nós, na proa 270 vindo em nossa direção na 090. "Minha nossa" pensei, avisei os bombers e rumei para o alvo, "De Hurricane é suícidio, pode ser algum Ás Russo" mas caçador é caçador, vamos lá.

O avião inimigo se aproxima muito rápido, devia estar um pouco mais alto. Na primeira passagem ele cruza minha asa direita há uns 200m, até pensei que ele não havia me visto que iria direto aos bombers, se fosse teria alcançado algum sucesso pois sua velocidade era maior que a minha. Mas não, ele curvou quando passava minha asa direita, era um I-16... que pejorativamente chamamos de I-coisinha... mas como é manobrável esse I-coisinha, até chego a imaginar que ele esta em stall durante as manobras, mas parecem ser tounneaus fortes, para minha sorte estas manobras o fazem perder muita energia.

I-16 Russo

Ele realizou dois desses supostos "stall´s" em minha frente, achei que teria um abate fácil com ele caindo sem controle, mas ele recuperava muito facilmente, e entrávamos em curvas novamente, no segundo Stall arrisquei uns disparos com as 6 metralhadoras, mas errei, ele recuperou e minhas traçantes passaram abaixo do avião. 

Durante o combate chego a pensar que o piloto é novato, voando um I-16 dessa forma... mas não haá tempo para isso. Novamente entramos em uma curva forçada, dessa vez para a direita, forço ao máximo meu manche, maldito avião que teima em não curvar o quanto eu preciso, o barulho do metal chacoalhando nas asas me avisa do stall iminente, mas preciso continuar "UAU, o I-coisinha "stolou" de novo, incrivelmente ele terminou o stall voltando para a esquerda... não acredito no que vi, e ainda para minha sorte, ele esta indo direto para meu gunsight... em formato de crucifixo, aumentando cada vez mais. Antes dele entrar no colimador disparo uma rajada rápida, não mais que um segundo, foi o bastante, vejo os impactos certeiros no cockpit e dorso do I-coisinha, ele passa rapidamente pela minha asa esquerda já sem controle e mergulhando, pronto, não é mais problema meu... volto minha atenção aos Ju-88... alguns segundos depois o clarão de uma explosão brilha na minha orelha esquerda, era o I-coisinha acertando o chão... menos um, pensei.

I-16 derrubado, o piloto não sobreviveu.

Aviso pelo rádio aos pilotos dos Ju88 que comemoram o feito, salvei a vida de pelo menos 8 pessoas hoje, além da minha própria pele, afinal cada Ju88 tem quatro tripulantes, pais de família, filhos, pais... vão poder voltar para casa.

Percebo que esse I-coisinha era somente mais um, alguns deles decolaram para tentar atacar nossos bombers, mas não conseguiram nos encontrar, alguns deles foram verificar o nosso alvo, ele havia sido atacado alguns minutos antes, sendo que algumas bombas caíram sobre os trilhos dos trens, alguns desses I-16 conseguiram evitar uma tragédia como é possível ver no filme abaixo.

Com esses trens parados o trabalho de nossos dois Ju88 ficou mais fácil... era só soltar as bombas!

Voltei para a proa 090 e reencontrei nossos bombers... foi o suficiente para ver as bombas caírem e acertarem o alvo, não sobrou muito dos trens.

Aerofield com os trens danificados.

O abate foi comentado no grupo de caça russo, na foto abaixo é possível ver um dos pilotos mostrando a passagem do I-16 pelo colimador de meu Hurricane.

Após essa missão retornamos ao nosso campo de pouso onde fomos felicitados com um encontro, onde o Major Pasfar pode receber sua medalha de estrategista e eu a minha de piloto de mergulho, durante o almoço pude relatar o combate feroz, mas rápido, aos nossos irmãos pilotos de combate.

Major Sípoli explicando o abate certeiro do I-16 durante o café da tarde, me sentindo um Ás caçador resolvi deixar o bigode crescer!

Nessa reunião pudemos conversar abertamente sobre o campo de batalha, não perdi a oportunidade e reclamei da falta de aviões, inclusive de um BF109 para meu uso, fomos então levados para um galpão a cerca de 10km do local do nosso almoço e com espanto pudemos ver a linha de produção dos BF109... a todo vapor.

Seremos melhores pilotos com esses aviões e conforme nossa experiência for aumentando, tenho certeza que a cada voô estaremos melhores.

Ass.

Major Sípoli

SubCo Gav Abutres

Co 1º/1º Grupo de caça Alfa