O oficial de inteligência, Major Pasfar, expôs os dados da missão com clareza, era esperada uma grande ofensiva russa com mais de 50 aeronaves. O esquadrão deveria unir-se a outras aeronaves da Luftwaffe num esforço de patrulha aérea de combate na região ao norte de Smolensk. Ao designar as esquadrilhas responsáveis pelos vôos o Major não mencionou a esquadrilha Charlie. E não era por menos, o aumento da atividade da Força Aérea do Exército Vermelho prejudicou o reabastecimento de peças ao nosso esquadrão, e todos os outros dois aviões da esquadrilha Charlie estavam “groundeados”, não podiam voar. Coube a mim aguardar na base como caça de alerta em terra.
Um tanto frustrado, e ao mesmo tempo aliviado da tensão do vôo, pude dedicar-me ao baralho com os mecânicos na base, e como sempre o Truco era a nossa maior diversão. Além disso, reler as mesmas cartas de sempre matava um pouco da saudade de casa. Tudo corria muito tranqüilo, até mesmo no baralho, estava com o Zap na mão e quando gritei “Truco!” soou o alarme da base. A sensação de conforto provocada pela posse do Zap, e por estar prestes a vencer uma partida de truco foi bruscamente substituída pela sensação de “frio na barriga” provocada pelo susto do alarme tocando. A “sirene do inferno” provocou uma descarga de adrenalina na minha corrente sanguínea, alertando imediatamente o meu organismo de que era o combate que me esperava.
Após largarmos o baralho, eu e os mecânicos terminamos de aprontar o avião e os equipamentos de vôo, em poucos instantes taxiei para a pista e decolei. Já no ar, recebi as instruções da torre: Vector 1 – 4 – 0, 4500m. A única informação adicional era a de que tropas no solo reportaram ataques aéreos contra unidades de artilharia anti-tanque perto da linha de frente.
Aproximadamente 50 minutos depois estava sobre a área sobre o alvo, e ao reportar a minha posição para a torre, ouvi a seguinte frase: “Denken Sie daran: Sie sind allein und frei, den Feind anzugreifen.” (Lembre-se: você está sozinho e livre para engajar o inimigo.) Reduzi a potência do motor para 70%, e iniciei a busca pelas aeronaves inimigas. É um momento angustiante, girar o avião lentamente para um lado e para o outro, olhar para todos os lados e para cima na busca pelo inimigo. E ao mesmo tempo a incerteza reinava em minha cabeça, pensar que podem ser várias aeronaves, com ou sem escolta, inúmeras variáveis passavam pela minha cabeça.
Foi quando fiz uma curva muito leve para a esquerda, que notei a aproximação de dois alvos vindos do norte em formação a aproximadamente 3500m de altitude. Inicialmente pensei tratar-se de dois Stukas, pois esperava os russos vindo do leste ou nordeste. Resolvi conferir e coloquei-me numa rota para o norte em uma leve subida, potência do motor em 110%, sempre conferindo a reação dos “dots” à minha presença. Os dois não se incomodaram muito e continuaram vindo...
Ao me aproximar mais, quase em cima dos dois alvos, pude perceber que o maior era um bombardeiro Pe-2 e seu ala era um caça, provavelmente um Mig-3 ou Yak-1. Nesse momento pensei: ora, por que essa escolta está tão aproximada ao bomber, será que não me viram? Ou será uma armadilha dos russos? Pode haver uma escolta mais alta, e se eu persegui-los ficarei vulnerável ao seu ataque. Por um breve momento dei uma olhada ao meu redor buscando o terceiro avião, e não o encontrei. Estava quase na hora de mergulhar e não hesitei, desci do “poleiro” num mergulho acentuado na direção dos aviões “vermelhos”. Decidi atacar a escolta primeiro, uma “passada” bem feita daria conta do caça e me deixaria a sós com o bomber. Ao aproximar-me, constatei que era um Mig, acionei os flaps de combate, estava a 610km/h com meu Bf-109 E4 me aproximando rapidamente do Mig que crescia aos poucos no meu “gunsight”. A tensão me dominava comprimindo meus músculos involuntariamente, de repente começaram os tiros do artilheiro do Pe-2 e o piloto do Mig manobrou violentamente seu avião num mergulho a esquerda que eu não ia conseguir acompanhar, só coloquei a mira num “ponto futuro” e disparei uma rajada com os canhões e metralhadoras do Messerschmidt que impactaram a fuselagem traseira do Mig. Puxei uma curva para a esquerda subindo que quase me desmaiou devido a alta força G sobre meu corpo, de cabeça para baixo olhei para o teto do canopí e vi o Mig manobrando me procurando e iniciei outro mergulho agora com velocidade mais parecida com a do alvo que iniciou tesouras curtas, direita, esquerda, quando ia virar para a direita novamente disparei mais uma rajada certeira em sua asa esquerda que incendiou imediatamente, o Mig realizou uma curva e apontou o nariz para baixo e pela última vez, desse mergulho ele não sairia.
Rumei para o Pe-2 que se aproximava do alvo um pouco distante e mais alto. Fechei os radiadores e iniciei a perseguição. Provavelmente ele não me viu nas suas 6h, e quando iniciou o mergulho para o bombardeio eu já estava quase pronto para disparar. De repente a antiaérea alemã sacudiu os céus atirando no Pe-2 e como eu estava muito próximo sentia meu avião chacoalhar devido às flaks 88mm, mas isso não me afastou do Pe-2, rangendo os dentes, radiador fechado, motor a 110% disparei uma longa rajada com tudo que eu tinha, pude ver com clareza os impactos na fuselagem e raiz da asa esquerda do Pe-2. Estávamos muito perto do chão e puxei ferozmente o manche para trás subindo meu avião quando um clarão tomou conta do cockpit, era a explosão do Pe-2 que caiu em cima da artilharia alemã.
Quase sem combustível e munição retornei para a base. Logo ao descer do avião, que ficou um pouco avariado, já havia um outro avião preparado, um B-239. Alvos ao norte da base estavam sendo atacados, e fui designado para a ala do piloto Batz do esquadrão Jager.
Rumamos para o alvo e haviam vários Il-2 arrasando as tropas alemãs no solo. Voávamos a baixa altitude diretamente para os Il-2, e a visão do campo de batalha era devastadora, inúmeros tanques em chamas, abertos pelos canhões e foguetes dos Il-2 como se fossem latas de sardinha!
A confusão reinava nos céus e um Il-2 cruzou por baixo de nós rumo às nossas 7h. Na ala do líder Batz mergulhamos no tanque voador. Eu confesso que não tinha nenhuma expectativa de abater o Il-2, e fui mais para defender o líder. O B-239 é muito manobrável, difícil de acertar, mas não tem canhões, somente 4 metralhadoras .50. Estávamos numa formação muito apertada quando o líder iniciou os disparos, eu manobrei e coloquei o caça um pouco atrás e abaixo do líder, também comecei a atirar. Foi muito difícil ficar entre o chão e o líder, manobrando com cuidado para não bater, às vezes a impressão que dava era a de que se eu esticasse a mão para cima iria encostar no Bf-109! Após várias rajadas curtas, Batz atingiu uma longa rajada no IL-2 que teimava em cair, logo depois acertei uma rajada longa e contínua no cockpit e seção dianteira da fuselagem do Il- 2. Segundos depois o motor do Il-2 incendiou, o tanque voador parecia mais um asteróide em chamas caindo no solo numa imensa explosão! Era a terceira kill em menos de 50 minutos!
Fui atingido por disparos inimigos logo depois disso, e ao olhar a asa direita vi um gigantesco buraco! Abortei a missão e fiz um pouso forçado. A tensão foi substituída por um orgulho pelo trabalho bem feito. E novamente pensei: Schöner Morgen! E que bela manhã! Pelo menos para mim, já para os russos...
OBS.: Primeiro relato de missão feito pelo 1º Ten. Ribeiro, tudo que está em alemão pode estar errado pois foi traduzido pelo google! hehehe
Ae..................... muito legal.
ResponderExcluirFalta uma do Pasfar e uma do Fake!!!
Que barato pessoal, vou mandar um e-mail para todos os pilotos Amigos do nosso Squad falando dos nossos relatos. Muito boa Fred!
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