sábado, 7 de abril de 2012

Cap.27 - Chamas no café da manhã

Acordei antes do amanhecer, e vi o dia clareando, poucas mas densas nuvens cobriam o mar a oeste, o vento fresco vinha de alto mar para acalmar o calor que fazia dentro de nossas barracas. O café da manhã de hoje foi uma loucura, nunca tomei nada tão ruim, e o pão nunca esteve tão duro... pensei: "que tal afofar o pão mergulhando-o neste café horroroso?". A combinação não poderia ser outra, ficou horrível, não poderia ter ficado diferente, mas pelo menos deu para mastigar.

Me encontrei no rancho com o piloto Phoenix do esquadrão BLW, ele estava entusiasmado, foi informado que receberíamos suprimentos nesta manhã, que bom, será que teríamos leite quente com chocolate e biscoitos para comer no café da tarde perguntei... ele não sabia mas também gostaria. Não poderíamos esquecer que se haviam navios chegando provavelmente também chegariam alguns PE2 russos para tentar afundá-los.

No briefing da manhã na barraca do comando, o Ten Cel Mutley nos informa que os navios já podem ser vistos do alto da torre de controle, e que devido a sua proximidade poderíamos ser surpreendidos pelos bombardeiros russos, sobre o Mar Negro. O alvo para os russos só poderia ser os navios, não seriam loucos de permitirem que recebessemos mais munição e nafta, nada mais.


Todos no esquadrão estavam em alerta de cockpit: sentados em nossos caças, devidamente uniformizados, para quedas como assento, cintos tão apertados que até marcavam nossas peles, colete salva-vidas, rádio ligado na mesma freqüência da torre e reporte de um em um minuto.




Não demorou muito tempo e eles vieram. No rádio um grito: "Scrambler NOW!", os motores são ligados todos ao mesmo tempo, a fumaça dos cilindros cheios de nafta explodindo na partida invade o campo de pouso, o cheiro é inconfundível, o som de mil trovões ecoando ao mesmo tempo surge quando aceleramos nossos caças para a proa 310 a fim de interceptar os bombardeiros, tiro verde para o alto e nós decolamos, todos ao mesmo tempo.

A informação era de que estavam chegando a 2.500m de altura pelo nordeste, informe de 2 PE2 e 2 B25, malditos americanos.

A adrenalina provoca sensações esquisitas, sinto o mesmo tremor na perna, sim, ainda sinto isto a cada contato que tenho com o inimigo, e é isso que me mantém vivo, o medo! A adrenalina faz esses tremores pararem, acalmam a respiração e me permite focar na missão, e atacamos os PE2 sem escolta. Novamente este é um exemplo: Um bombardeiro sem escolta de caças é uma missão mortal. Mas desta vez foi mortal para nós, Phoenix foi atingido na perna em cheio pelo artilheiro de cauda de um dos PE2, machucado e cheio de óleo no cockpit retornou a base, mesmo assim fumou o PE2, mas precisou ejetar já próximo da praia, droga, menos um FW190, mas o Phoenix estava bem, agora era a minha vez, avistei o PE2 que o Phoenix atingiu, fumaça saía do seu motor esquerdo, rezava para que os tiros do Phoenix tivessem atingido o gunner traseiro ou que sua munição tivesse acabado, cheguei com meu BF109G6 pela six low do PE e nem deu tempo de tentar, um tiro acabou com meu motor, mais um... esse cara treinou muito... não desisti e com o cockpit cheio de óleo ainda atingi muito esse PE2, mas o maldito não caiu, ele tem dois motores, e um sempre se mantém em funcionamento... voltei para a base deixando aquele maldito PE2 ir embora, antes disso vi 3 dots a nordeste, 3000m, informei a torre pelo rádio, e já haviam dois FW190 no encalço deles, com isto em mente voltei para a base, pousei, não sem antes pedir pelo rádio um BF110 com 2 MK108mm no nariz, agora não me escaparão.





Voltei, e como diria o nosso piloto Zoiudo, com sangue nos zóio, fui para cima dos 3 dotz, um deles soltava fumaça muito preta, acho que era o PE2 atingido pelo Phoenix e por mim, voava em ala com outro avião que identifiquei a primeira vista como outro PE2, pelo jeito os FW190 não tiveram sucesso. O terceiro dot era um caça de escolta, o caça voava como se deve voar, mais alto e em círculos sobre os bombers, certamente me veria logo. Mas o sangue nos zóio "me cegava" tinha que derrubar aqueles bombers.

Segui os dois por uns 10km, o BF110 em voo nivelado consegue fazer quase 500km/h era fácil acompanhar, vi que o caça veio atrás de mim, mas provavelmente não teria a mesma velocidade em voo nivelado, me alcançaria logo e depois voaria junto, pois ele realizaria um mergulho.

Acompanhando os bombers de longe pude ver por entre a infinidade de estruturas metálicas do canopi do 110 que aquele que desenhava em preto pelos céus começou a fazer uma leve curva a esquerda e perder altura, avisei ao Phoenix pelo rádio que ele provavelmente tinha acabado com um motor desse PE2, perderia logo esse motor, ou os dois, iria cair, pensei em abatê-lo mas abandonei a idéia a tempo, por que matar uma galinha morta se o outro bomber ainda tinha chances para voltar e nos matar? Virei a direita para outro bomber que a esta altura estava uns 30km longe de nossos navios rumo a base para pouso, meu gunner avisa do caça em nosso encalço, que ódio, por que sempre tem um deles no meu encalço?

O caça começou a atirar em mim e meu gunner disparava contra ele, por que nossos gunners não atingem esses caras???? Os gunners dos russos nos abatem tão facilmente... mas enfim, gritei com o gunner, mas logo parei, por que colocar mais pressão sobre um cara que vê o nariz de um Hurricane a menos de 200m disparar seus canhões em direção a seu peito? Deixa o cara fazer seu trabalho, ele faz o dele, e eu faço o meu, tesouras, nariz para baixo, curvas em ascendencia, sem perder o bomber do foco, se eu curvar muito ele abre distância... levei alguns tiros, o gunner grita comigo agora: "FAÇA ALGO!!!! ELE ESTA NOS ATINGINDO!". Eu sei, eu sei... que pressão, pensei no voô nivelado de novo, acelerei o máximo, fechei o radiador e enfiei a mão na parede (manete para frente acelerando ao máximo)!


Desta vez o 110 não alcançou seus 490km/h... não passava de 430, mas que diabos... meu motor esquerdo fumava... não poderia ser pior, até poderia, mas era melhor não pensar. Os tiros do gunner começaram a se espassar, o tiros de Hurricane também, bem que poderia ter sido atingido esse caça maldito, mas o gunner não consegue precisar se acertou ou não.


O bomber se aproximava da minha mira, agora pude identificar direito, era um B25, muito bom e péssimo ao mesmo tempo, pois seus gunners eram o retrato do capeta no meu colimador, não poderia parar de pensar no Phoenix e em mim algum tempo antes, fomos praticamente abatidos por estes gunners malditos.

Por incrível que pareça o bomber começou a diminuir a velocidade e executar uma curva a direita subindo, poderia ser melhor para mim??? Só se ele parasse no ar e viesse aqui apertar meu gatilho. Que raios ele esta fazendo? Quer se matar? Giro junto com ele, a força G me espreme no assento do meu caça, o esforço para manter a mão no manche é enorme, a fadiga toma conta do meu corpo. O B25 aumentou de tamanho em meu colimador muito rapidamente, a ansiedade invade meu corpo, o B25 ainda por cima me deu uma superfície de contato enorme quando virou e subiu ao mesmo tempo, subi o nariz acima a direita do seu bico... , aperto o pedal para a esquerda para manter o nariz para cima, primeira rajada e erro, os tiros passam por baixo, pela traseira do B25. Acerto o nariz do meu 110, subo um pouco, um pouco mais a direita, a deflexão e a convergência estarão perfeitas agora, o tiro de angulo será perfeito, aperto o gatilho como se minha vida dependesse disso... e depende... os gunners fazem pouca resistência, quase nada para ser sincero.

Phoenix me chama no rádio e pergunta se fui eu quem atirou a nordeste da base, respondo que sim e aperto novamente o gatilho, o B25 se despedaça na minha frente, adoro esses MK108, que visão linda do inferno na minha frente, fogo, fumaça, explosões, o inferno deve ser assim. A asa direita do B25 se solta, enquanto o motor explode em chamas e espalha fumaça preta pelos céus, o avião faz um tounneau completo virando para a esquerda enquanto a fuselagem se quebra em dois rodopiando nos ares, grito para meu gunner: "HORRIDO!!!". E tenho uma gritaria eufórica vinda do gunner: "MAIS UM, MAIS UM!!!!". E Phoenix informa ver a explosão, aproveita e pergunta pelo caça onde prontamente meu gunner avisa que ele foi mais ao norte, provavelmente não teria mais trabalhos a fazer, pois seus bombers cairam.

O sol torra nossos rostos, voamos a quase 3 horas nas missões de hoje, o suor nos encharca a pele, o capacete preto de couro parece um forno.

Phoenix vai em direção ao Hurricane ver se sobra alguma coisa para ele, mas logo desiste, ele estava muito longe, já eu... motor esquerdo fumando muito, o coitado do BF110 perdendo potência e a base a uns 50km ao sudoeste... será que conseguirei retornar? Só meu BF110 sabe... "FOGO!!!!!!" grita meu gunner. Fogo no motor esquerdo, que ódio!!! Ligo o extintor de incêndio e ele apaga... estou muito longe da base, será que chego? O motor esquerdo começa a ratear, aviso ao Phoenix, que logo me anima: "Amigo, você tem dois motores, vai dar". É realmente vai dar.

Nivelo na proa 230 e me mantenho calmo. "FOGO!!!!!" grita o gunner! Mas que diabos, de novo??? Aciono o extintor de novo várias vezes e nada, que coisa, tudo de errado esta manhã, provavelmente não chegarei a base, mergulho para ver se o vento apagará as chamas, felizmente tenho sucesso, a visão daquela língua de fogo a menos de 3 metros do meu ombro é aterradora, o gunner coitado via tudo de camarote, e ainda me informa que a asa esquerda começou a vazar nafta... ah que bom pensei, fogo e combustível... combinação boa! Minha perna treme mais que antes do combate, dessa vez a adrenalina já baixou e instinto de sobrevivência se sobrepõe, dou ordem de saltarmos ou tento levar o 110 ao campo de pouso?? Dúvida maldita...

Já estou sobre o litoral, acho que vai dar sim... vejo o lago que fica ao norte de nossa base e posso ver algumas barracas ao lado da pista... fico mais calmo, meu motor esquerdo para, desligo os comandos dele e me mantenho na proa, quando ouço o grito de novo: "FOGO!!!!". Que ódio desse gunner, mas ainda bem que ele esta lá, já perdi alguma altura do último mergulho para apagar o fogo, a pista chegando, eu com um motor só, e essa nafta vazando ao lado de uma língua de fogo, estou a 300m de altura... 350km/h, a pista a uns 3km... mergulho... muito, praticamente raspo a barriga no chão, a 380km/h, desta vez acho que não vai dar, mas o fogo apaga... a pista chegando.

Preciso ganhar altura por que se o fogo voltar tenho que poder megulhar, mas como com um só motor subirei? Por que o motor  ainda insiste em se inflamar se já esta desligado? Sim, óbvio, o óleo se espalhou e quando cai por cima do coletor de escapamento incendeia tudo ao seu redor.

O BF se arrasta com força e garra para cima, a pista esta a 500m, alinho, baixo os flaps, baixo trem de pouso e... "FOGO!!!!" De novo????? Que coisa, será que conseguirei apagar? Duvido... estou baixo demais, a aerodinâmica do voo esta prejudicada, cheia de arrasto pelos flaps e trem de pouso... mergulho o quanto posso, tremo feito bambu novo em dia de furacão... o silêncio na cabine é supulcral... a pista se aproxima, o fogo ao meu lado, o cheiro de queimado é insuportável, o fogo provoca um calor que deve ser igual a um bom dia de verão nas praias do inferno.

Aviso ao gunner para soltar os cintos e abrir o canopi... "Se prepara cara, vamos correr feitos loucos..." o 110 toca a pista trazendo consigo 30 metros de chamas... aperto o freio até quase entortar o pedal, rodo o BF110 na pista girando-o para a esquerda, a traseira dele se quebra, e assim escapo da língua de fogo... antes de o avião parar saltamos e corremos, e como corremos... os bombeiros já esperavam na pista e partem para cima do meu lindo 110. Eu e meu gunner nos jogamos no chão já a uns 200m do 110, acho que batemos o recorde mundial dos 200m sem barreiras, de bota, paraquedas, coletes, capacete e uniformes. Respirávamos muito rapidamente, o coração a 200 bpm, e o suor escorrendo por entre o capacete e nossa pele, exarcados de suor e adrenalina rimos muito, sorriso de medo, nos salvamos, escapamos por entre os dentes do tridente do diabo... os bombeiros conseguem apagar o fogo do 110, deu Phoenix, deu!!! Pensei.


Depois dessa missão ainda voltamos ao mar com nossos 110, perdi a chance de pegar um PE2 no head on, mas o Phoneix o acerta, não sem ficar com um motor em chamas, mas seu extintor não funcionou e precisou saltar no mar quando foi salvo pela nossa frota.




E eu? Fui atingido por um caça de escolta e FOGO! De novo? Sim, de novo... e de novo por várias vezes, a repetição do que ocorreu uma hora antes, 3 vezes lutando contra o fogo até o pouso, onde pudemos ver um replay do meu pouso anterior, fogo, derrapagem na pista, correria, bombeiros... pelo menos pousei outro 110, bem avariado no pouso, e derrubamos outro bombardeiro russo.


Os russos perderam nesta manhã, eu não sei... 7, ou 8 bombardeiros e isto foi o fim. Eles nunca voltaram e recebemos nossos suprimentos apesar de perdermos 2 navios.



No café da tarde pedi: "bolacha com leite frio por favor, não quero nada que tenha a ver com fogo."

Um comentário:

  1. Hahaha, muito boa, vou recomendá-lo para a medalha de Atleta da Abutres...rsrsrs 200m sem barreira rsrsrsrs

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