A asa esquerda do Messerschmitt apontava em direção às águas verdes-azuladas abaixo, enquanto que o virtualmente imóvel Hurricane, enchia a visão do jovem berlinense. Através da estrutura metálica do canopy do Messerschmitt Bf-109F-4, o britânico Hurricane, com sua marca em azul, branco e vermelho da RAF, era puro contraste contra o céu azul cristal, sem nuvens da África do Norte. A puxada do manche, aumenta a força G, enquanto que o caça faz uma curva fechada. O piloto alemão sente o peso de seu corpo aumentado e espremido contra o assento.
Por baixo de seu capacete de voo de couro preto, gotas de suor escorrem pela sua face, queimando seus olhos, que permanecem abertos e fixos no colimador. 3G, 3,5G, 4G.... A força aumenta e o braço do jovem piloto começa a ficar fraco e fatigado. Cansado, entorpecido e com dores, por causa da missão cheia de combates aéreos, mesmo assim nada o pertuba. O inimigo não pode escapar. Uma rápida olhada nos instrumentos, e em seguida o pedal direito é pressionado por Jochen, como é conhecido pelos seus amigos, para corrigir ligeiramente a derrapagem de seu caça. Manete à potência máxima, mais uma puxada no manche, e o Messerschmitt começa a ganhar posição sobre o camuflado em marrom e areia caça britânico.
O Bf-109 começa a sentir o esforço da batalha, enquanto que a velocidade caia rapidamente dos 300 nós para 140. O Messerschmitt todo pintado em cor de areia, com a inferior em azul, responde como um animal de raça. Mas o nariz da aeronave cai, quando a velocidade diminui, e Jochen agressivamente pisa no pedal do leme, e consegue colocar o 109 entre o stall e o vôo lento. A velocidade diminui ainda mais, e imediatamente o som metálico do sistema automático de abertura do bordo de ataque distrai ligeiramente o piloto germânico. Entretanto esse sistema , aumenta a sustentação do caça e diminui a possibilidade de sobrevivência do piloto britânico.
Como um artista trabalhando com argila, criando uma peça de arte, o jovem piloto alemão de apenas 22 anos, conduz sua aeronave como se fosse uma continuação de seu corpo. O suor encharca seu uniforme de vôo. O Sol do inverno líbio, castiga sua face. As armações metálicas do cockpit castigam seu corpo e irritam sua pele sensível ao calor. Sente o peso de seu capacete de vôo aumentado pela força G das manobras ao mesmo tempo que seu franzino corpo vai sendo comprimido contra o assento metálico de seu caça. Esses sofrimentos não conseguem tirar a atenção do ás alemão. Ele já esta acostumado a isso e o que importa agora e obter mais uma vitória. Olhando por sobre seu ombro esquerdo, o piloto da RAF vê o bronzeado Messerschmitt com as pontas inferiores das asas em branco se aproximando cada vez mais.
No cone branco do motor do Messerschmitt está localizado um mortal canhão de 20mm e no nariz da aeronave estão duas metralhadoras 7.9 mm. O caça germânico rapidamente se posiciona para o golpe mortal. O medo rapidamente toma conta do piloto britânico, pois as ações do caça alemão levam-no a concluir que aquele piloto não é um novato qualquer. Suas manobras são rapidamente contra-atacadas pelo piloto alemão, que ao mesmo tempo se aproxima cada vez mais a cada curva. Ele está com toda certeza combatendo um expert da caça. Com seu destino já selado, a face do piloto inglês fica paralisada de medo, e ele dá uma última olhada sobre seu ombro esquerdo enquanto que o Messerschmitt se aproxima da posição de abrir fogo... Ao mesmo tempo que o Messerschmitt de Jochen se aproxima, o Hurricane começa a desaparecer sob o nariz do caça alemão.
O jovem Jochen balança ligeiramente sua cabeça para a esquerda e morde o lábio inferior. Através de seus grandes olhos marrons ele calcula o ponto aonde deve apontar suas armas para que as balas encontrem seu adversário. É hora de atirar. Fogo !!! O dedo indicador da mão direita, aperta firmemente o gatilho vermelho ao mesmo tempo que a coluna de comando vibra violentamente. O cockpit fica envolto pelo cheiro do cordite, quando mais de quinze quilos de aço são lançados por segundo das metralhadoras e do canhão em direção ao Hurricane, formando um belo arco amarelo das traçadoras. Após uma rápida rajada de dois segundos, o piloto alemão coloca seu caça no dorso e mergulha afastando-se da vítima, certo de seus certeiros disparos.
A mil pés acima do combate, o ala do jovem berlinense observa ao mesmo tempo assombrado e com admiração a ação que vai acontecendo. Como que guiadas por uma força sobrenatural, os projéteis de Jochen e o Hurricane se encontram mortalmente. Elas atingem o motor do caça britânico, transformando-o imediatamente em uma bola de fogo. Labaredas laranjas e vermelhas explodem ao redor do Hurricane, que lança uma cauda de fumaça preta e cinza com mais de 30 metros de comprimento. Os danos apenas começaram, já que outros projéteis começam a atingir a fuselagem em direção ao cockpit. A destruição é total e completa, reduzindo o piloto britânico a uma massa sem vida e ensangüentada jogada dentro do cockpit em chamas de seu túmulo alado.
Horrido Jochen!!, exclama seu ala. Victory!!
Hast du den aufschlag gesehen? (Você o viu cair?)
Jawohl Jochen! (Confirmado)
Em segundos, o Hurricane de 3,2t (7 500 lb), parece uma folha metálica que cái vericalmente em direção ao mar perto do porto líbio de Tobruk. Enquanto que o ás da caça alemã Hans-Joachim Marseille volta para sua base, quatro manchas de óleo são vistas na bela superfície azul do oceano, marcando o local do túmulo de quatro pilotos de caça Britânicos abatidos pelo ás alemão, conhecido entre seus pares como "A Estrela da África", e que seria o mais bem sucedido entre todos os pilotos do teatro de guerra norte africano. esquadrilhas inteiras em uma única missão é a base de sua legenda, que sustenta seu mito. Marseille é ainda cultuado pela maioria dos pilotos de caça da Luftwaffe como tendo sido o melhor dos melhores, um excelente atirador, um piloto acrobático bem como o que possuía a melhor tática, ou seja, o sinergismo desses talentos, forjou o mais letal piloto de caça de sua geração.
Retirado do CockPitNews do nosso amigo Fabiano, piloto do Jagger - Marseille: http://www.cockpitnews.com.br/um-combate-de-marseille-4-0267.html
Muito bom Sípoli, será que chegaremos a esta riqueza de detalhes algum dia?
ResponderExcluirDuas coisas interessantes:
1- sistema automático de abertura do bordo de ataque, é aquela borda na frente da asa dos BFs que abrem quando estamos taxiando ou voando muito lento, nunca tinha encontrado nenhuma referência a ela.
2- O Cheiro de cordite (Cheiro da pólvora de munição deflagrada) - Li isto a primeira vez no livro Selvagens Cães de Guerra do Frederick Forsyth. Não sabia que o cheiro e consequentemente a fumaça entravam nas cabines dos caças.
Muito interessante.
Os bordos de ataque moveis são os SLATS, funcionam como Flaps mas ampliam a superfície das asas para a frente, são automáticos nos BF109... cara eu me esforço bastante para tentar ao menos chegar perto mas ainda não consigo, ler, ler e ler só isso nos fará melhorar. Nos caças tudo entrava na cabine, vento, cheiro, calor, frio, se bobear até goteira na cabeça devia ter...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO nome do DONO do site é FABIANO
ResponderExcluirEle é o Marsellie?
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