terça-feira, 3 de abril de 2012

Relato de Jochen, Ás alemão na época com 22 anos



A asa esquerda do Messerschmitt apontava em direção às águas verdes-azuladas abaixo, enquanto que o virtualmente imóvel Hurricane, enchia a visão do jovem berlinense. Através da estrutura metálica do canopy do Messerschmitt Bf-109F-4, o britânico Hurricane, com sua marca em azul, branco e vermelho da RAF, era puro contraste contra o céu azul cristal, sem nuvens da África do Norte. A puxada do manche, aumenta a força G, enquanto que o caça faz uma curva fechada. O piloto alemão sente o peso de seu corpo aumentado e espremido contra o assento.

Por baixo de seu capacete de voo de couro preto, gotas de suor escorrem pela sua face, queimando seus olhos, que permanecem abertos e fixos no colimador. 3G, 3,5G, 4G.... A força aumenta e o braço do jovem piloto começa a ficar fraco e fatigado. Cansado, entorpecido e com dores, por causa da missão cheia de combates aéreos, mesmo assim nada o pertuba. O inimigo não pode escapar. Uma rápida olhada nos instrumentos, e em seguida o pedal direito é pressionado por Jochen, como é conhecido pelos seus amigos, para corrigir ligeiramente a derrapagem de seu caça. Manete à potência máxima, mais uma puxada no manche, e o Messerschmitt começa a ganhar posição sobre o camuflado em marrom e areia caça britânico.


O Bf-109 começa a sentir o esforço da batalha, enquanto que a velocidade caia rapidamente dos 300 nós para 140. O Messerschmitt todo pintado em cor de areia, com a inferior em azul, responde como um animal de raça. Mas o nariz da aeronave cai, quando a velocidade diminui, e Jochen agressivamente pisa no pedal do leme, e consegue colocar o 109 entre o stall e o vôo lento. A velocidade diminui ainda mais, e imediatamente o som metálico do sistema automático de abertura do bordo de ataque distrai ligeiramente o piloto germânico. Entretanto esse sistema , aumenta a sustentação do caça e diminui a possibilidade de sobrevivência do piloto britânico.

Como um artista trabalhando com argila, criando uma peça de arte, o jovem piloto alemão de apenas 22 anos, conduz sua aeronave como se fosse uma continuação de seu corpo. O suor encharca seu uniforme de vôo. O Sol do inverno líbio, castiga sua face. As armações metálicas do cockpit castigam seu corpo e irritam sua pele sensível ao calor. Sente o peso de seu capacete de vôo aumentado pela força G das manobras ao mesmo tempo que seu franzino corpo vai sendo comprimido contra o assento metálico de seu caça. Esses sofrimentos não conseguem tirar a atenção do ás alemão. Ele já esta acostumado a isso e o que importa agora e obter mais uma vitória. Olhando por sobre seu ombro esquerdo, o piloto da RAF vê o bronzeado Messerschmitt com as pontas inferiores das asas em branco se aproximando cada vez mais.

No cone branco do motor do Messerschmitt está localizado um mortal canhão de 20mm e no nariz da aeronave estão duas metralhadoras 7.9 mm. O caça germânico rapidamente se posiciona para o golpe mortal. O medo rapidamente toma conta do piloto britânico, pois as ações do caça alemão levam-no a concluir que aquele piloto não é um novato qualquer. Suas manobras são rapidamente contra-atacadas pelo piloto alemão, que ao mesmo tempo se aproxima cada vez mais a cada curva. Ele está com toda certeza combatendo um expert da caça. Com seu destino já selado, a face do piloto inglês fica paralisada de medo, e ele dá uma última olhada sobre seu ombro esquerdo enquanto que o Messerschmitt se aproxima da posição de abrir fogo... Ao mesmo tempo que o Messerschmitt de Jochen se aproxima, o Hurricane começa a desaparecer sob o nariz do caça alemão.


O jovem Jochen balança ligeiramente sua cabeça para a esquerda e morde o lábio inferior. Através de seus grandes olhos marrons ele calcula o ponto aonde deve apontar suas armas para que as balas encontrem seu adversário. É hora de atirar. Fogo !!! O dedo indicador da mão direita, aperta firmemente o gatilho vermelho ao mesmo tempo que a coluna de comando vibra violentamente. O cockpit fica envolto pelo cheiro do cordite, quando mais de quinze quilos de aço são lançados por segundo das metralhadoras e do canhão em direção ao Hurricane, formando um belo arco amarelo das traçadoras. Após uma rápida rajada de dois segundos, o piloto alemão coloca seu caça no dorso e mergulha afastando-se da vítima, certo de seus certeiros disparos.

A mil pés acima do combate, o ala do jovem berlinense observa ao mesmo tempo assombrado e com admiração a ação que vai acontecendo. Como que guiadas por uma força sobrenatural, os projéteis de Jochen e o Hurricane se encontram mortalmente. Elas atingem o motor do caça britânico, transformando-o imediatamente em uma bola de fogo. Labaredas laranjas e vermelhas explodem ao redor do Hurricane, que lança uma cauda de fumaça preta e cinza com mais de 30 metros de comprimento. Os danos apenas começaram, já que outros projéteis começam a atingir a fuselagem em direção ao cockpit. A destruição é total e completa, reduzindo o piloto britânico a uma massa sem vida e ensangüentada jogada dentro do cockpit em chamas de seu túmulo alado.

Horrido Jochen!!, exclama seu ala. Victory!!

Hast du den aufschlag gesehen? (Você o viu cair?)

Jawohl Jochen! (Confirmado)

Em segundos, o Hurricane de 3,2t (7 500 lb), parece uma folha metálica que cái vericalmente em direção ao mar perto do porto líbio de Tobruk. Enquanto que o ás da caça alemã Hans-Joachim Marseille volta para sua base, quatro manchas de óleo são vistas na bela superfície azul do oceano, marcando o local do túmulo de quatro pilotos de caça Britânicos abatidos pelo ás alemão, conhecido entre seus pares como "A Estrela da África", e que seria o mais bem sucedido entre todos os pilotos do teatro de guerra norte africano. esquadrilhas inteiras em uma única missão é a base de sua legenda, que sustenta seu mito. Marseille é ainda cultuado pela maioria dos pilotos de caça da Luftwaffe como tendo sido o melhor dos melhores, um excelente atirador, um piloto acrobático bem como o que possuía a melhor tática, ou seja, o sinergismo desses talentos, forjou o mais letal piloto de caça de sua geração.

Retirado do CockPitNews do nosso amigo Fabiano, piloto do Jagger - Marseille: http://www.cockpitnews.com.br/um-combate-de-marseille-4-0267.html

5 comentários:

  1. Muito bom Sípoli, será que chegaremos a esta riqueza de detalhes algum dia?

    Duas coisas interessantes:

    1- sistema automático de abertura do bordo de ataque, é aquela borda na frente da asa dos BFs que abrem quando estamos taxiando ou voando muito lento, nunca tinha encontrado nenhuma referência a ela.

    2- O Cheiro de cordite (Cheiro da pólvora de munição deflagrada) - Li isto a primeira vez no livro Selvagens Cães de Guerra do Frederick Forsyth. Não sabia que o cheiro e consequentemente a fumaça entravam nas cabines dos caças.

    Muito interessante.

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  2. Os bordos de ataque moveis são os SLATS, funcionam como Flaps mas ampliam a superfície das asas para a frente, são automáticos nos BF109... cara eu me esforço bastante para tentar ao menos chegar perto mas ainda não consigo, ler, ler e ler só isso nos fará melhorar. Nos caças tudo entrava na cabine, vento, cheiro, calor, frio, se bobear até goteira na cabeça devia ter...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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